Cúpula da ciência do G20 recomenda mais “IA” verde e atenção a doenças na crise climática
O S20, coletivo de pesquisadores de academias de ciências do G20 (grupo das 20 maiores economias do mundo), apresenta nesta terça-feira (2) uma série de recomendações aos líderes políticos dos países integrantes da cúpula econômica. A mudança climática permeia os diversos eixos de análise dos cientistas, que alertam para o pouco uso de inteligência artificial para impulsionar a biodiversidade, e ainda, o perigo que o aquecimento global representa para a saúde da população mundial.
A partir de hoje, o grupo estará reunido no Rio de Janeiro para acertos finais da carta, um evento presidido pela Academia Brasileira de Ciências. Um Só Planeta teve acesso ao rascunho do documento, que traz as definições até então acordadas entre a comunidade científica do G20, podendo haver alterações na declaração final a ser divulgada.
Inteligência artificial “verde”
“O uso ético da IA deve priorizar o bem-estar humano e a sustentabilidade ambiental”, afirma o documento. Na recomendação dos cientistas, as lideranças das maiores economias do mundo devem estar mais atentas ao papel da tecnologia especialmente em áreas críticas como saúde, educação e mudanças climáticas.
Entre os riscos de uma exploração inadequada da IA, os pesquisadores alertam para o agravamento das desigualdades sociais, bem como o consumo significativo de energia e água necessário para apoiar centros de dados, onde ficam os computadores que processam as informações usadas por plataformas como o ChatGPT.
“Apesar de várias iniciativas, o progresso na utilização da IA para o desenvolvimento sustentável tem sido limitado, indicando a necessidade de reavaliação e maiores esforços”, afirma a carta.
Desafios da saúde
Enfrentar os impactos do clima e do meio ambiente na saúde é um dos eixos analisados pelos cientistas no documento. Na análise a ser apresentada aos líderes políticos, o grupo considera as alterações climáticas e ambientais, juntamente com a perda de biodiversidade e a poluição, fontes de impacto direto e indireto na saúde e na sustentabilidade social.
Salão onde estão sendo realizados os debates do S20 no Rio de Janeiro, com representantes das Academias dos países do G20 | Foto: Julio César Guimarães
“Estes fatores afetam a produção agrícola, os preços dos alimentos e acesso à água e à qualidade do ar”, destaca a carta, observando que países de baixo e médio rendimento tendem a sofrer maiores danos.
Segundo o grupo de acadêmicos, o aumento das temperaturas globais e padrões climáticos imprevisíveis criam condições que favorecem a propagação de doenças zoonóticas (transmitidas entre animais e humanos) e arbovirais (transmitidas principalmente por mosquitos), aumentando os riscos de transmissão.
“As nações do G20 devem estabelecer um fundo climático e de saúde para coordenar recursos, apoiar populações vulneráveis durante condições extremas e desenvolver sistemas de saúde resilientes à mudança climática para se prepararem melhor para as crises relacionadas com o clima”, alerta o documento. Recursos para garantir direitos ambientais também estão entre as recomendações.
Transição energética
O rascunho da declaração final do S20 sinaliza foco no aumento da contribuição das energias renováveis, “para a sua rápida implantação e possibilidades a longo prazo”. O endosso acompanha resolução da última Cúpula do Clima da ONU, no ano passado, em que países-membros se comprometeram a triplicar a oferta de energia limpa até 2030.
“A captura, utilização e armazenamento de carbono são cruciais para minimizar as emissões de CO2 dos combustíveis fósseis à medida que nos afastamos dessas fontes em direção a um futuro energético totalmente descarbonizado. Os biocombustíveis e o hidrogênio oferecem benefícios adicionais, particularmente para setores como transporte e indústria pesada”, argumentam os pesquisadores.
O grupo destaca a importância social da energia, defendendo que todos tenham acesso à energia sustentável, limpa, acessível e confiável, o que colabora para a melhora nos índices de pobreza das nações, incluindo a criação de emprego e justiça ambiental.
Bioeconomia
Na visão do S20, a bioeconomia, sistema econômico que prioriza o uso sustentável de recursos naturais, é essencial para enfrentar as alterações climáticas, a perda de biodiversidade e o esgotamento dos recursos do planeta.
“Reforçar a proteção dos recursos naturais, investindo em recursos ecológicos a restauração, o reforço das inovações em matérias-primas biogênicas, entre outros, são cruciais para promover a economia crescimento e mitigação das alterações climáticas”, afirmam os cientistas do grupo. O S20 também destaca a via da cooperação internacional para sinergia de conhecimento e programas que melhorem a qualidade de vida e protejam os recursos naturais em escala global.