ABC participa de debate sobre a presidência brasileira no G20
Pela primeira vez, o Brasil ocupa a presidência rotativa do G20, grupo que reúne as vinte maiores economias do mundo. Os veículos de imprensa O Globo, Valor Econômico e CBN se uniram para realizar a série de debates G20 no Brasil, que aborda os principais temas da liderança brasileira. A presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Helena Nader, que está à frente do grupo focal em ciência do G20, o Science20 (S20), foi convidada para participar da primeira edição, no dia 20 de março.
Durante a mesa redonda “O que a sociedade civil espera do Brasil?”, Nader frisou que o principal objetivo da liderança brasileira no S20 é lutar por compartilhamento de informação e transferência tecnológica. “Os países ricos não conseguem entender o que é o subfinanciamento da ciência no Sul Global. Não enxergam que publicar um artigo na Science hoje custa o mesmo que anos de fomento por aqui. As discrepâncias da ciência afetam todas as áreas”, enfatizou.
Na primeira reunião do S20 em 2024, a ABC sugeriu cinco prioridades para as discussões do grupo: Inteligência Artificial; Bioeconomia; Transição Energética; Saúde e Justiça Social. A presidente da ABC destacou que todos os temas dialogam com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), da ONU, de cuja elaboração o Brasil participou ativamente. “Temos aqui vários grupos da sociedade civil organizada e nossos pontos são comuns. Precisamos convergir, quanto mais fizermos isso, maior a chance de os documentos finais terem impacto na Cúpula do G20 em novembro”, finalizou Nader.
Constanza Negri, Henrique Frota, Helena Nader, Beatriz Motta e Cassia Almeida (mediadora)
Outros representantes da sociedade civil
Beatriz Motta, coordenadora de pesquisa da Plataforma Cipó, focou na questão climática. A Plataforma Cipó é um instituto de pesquisa independente que trabalha, principalmente, com o imperativo da mudança no clima a partir da perspectiva do Sul Global. Motta abordou a cruel injustiça geopolítica das mudanças climáticas, onde os países que menos emitem tendem a ser os mais afetados. Ela lembrou que investir em mitigação e adaptação é fundamental, mas não é tudo.
“Está sim faltando financiamento, mas não podemos limitar o debate a isso. Se queremos avançar numa transição energética justa, por exemplo, não podemos tratá-la como uma questão puramente técnica em detrimento de debates sobre seus efeitos sociais, sobretudo para as populações dos territórios onde as ações serão implementadas. Justiça climática vai muito além de investimento adequado”, afirmou.
Já o presidente da Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais (Abong), Henrique Frota, que preside o Civil20 (C20), lembrou que esse grupo de engajamento é mais amplo do que as sociedades dos vinte países, pois abrange também nações que não fazem parte do bloco. Para ele, a opção do Brasil em priorizar o combate à fome e a taxação dos super ricos são escolhas oportunas que já estão em debate no mundo.
“Já se fala, por exemplo, de amortização da dívida externa através de investimentos internos em saúde, podemos discutir o mesmo para o combate à fome. Até os EUA, maior credor do mundo, já começaram a embarcar nessas proposições. O problema agora são os credores privados”, afirmou. “A proposta do G20 para a taxação dos super ricos é de uma alíquota mínima. É algo importante, mas isso não significa que veremos de imediato o crescimento das receitas para programas sociais. Nesse momento, é mais sobre instalar essas medidas como uma alternativa política concreta”, concluiu.
Contanza Negri, líder do Business20 (B20), grupo focal que reúne empresas e indústrias do mundo todo, salientou que não se pode mais pensar políticas industriais nas mesmas bases que em décadas passadas. Ela defendeu que o olhar dos grupos focais precisa ser menos de diagnóstico e mais de soluções.
“Nosso papel no B20 não é falar de negócios, é falar sobre quais as contribuições que o setor privado pode dar para um crescimento inclusivo sustentável. Nossos eixos principais são o combate à fome, a transição energética justa, o fortalecimento das cadeias globais de produção, o fomento à inovação tecnológica e a valorização do capital humano. Mas esses eixos não são separados, precisam ser integrados na busca por medidas concretas”, disse.
*Marcos Torres para ABC